segunda-feira, 22 de junho de 2009

Presidente do STF quer destruir o que trabalhadores levaram décadas para conseguir

A propósito da postagem anterior cujo tema foi a decisão do Supremo de acabar com a exigência de diploma para jornalistas, recebemos dezenas de mensagens no nosso blog ou por email com comentários a respeito do assunto. A grande maioria jornalistas que, como eu, ficaram indignados com mais uma decisão equivocada da mais alta corte de justiça do país. De todos os comentários, porém, escolhí um para iniciar esta nova etapa de discussão a respeito do tema. E foi justamente a mensagem de uma jornalista formada em Comunicação Social mas que nunca foi a favor e continua sendo contra a obrigatoriedade do diploma para jornalistas. É a Simone Fernandes, nossa colega que nos últimos anos vem se dedicando mais a assessoria de imprensa. Simone foi minha colega na Rádio Globo e na CBN, também fomos sócios num curso de jornalismo que não deu dinheiro mas serviu para aumentar o nosso conhecimento na profissão. Não me sinto bem em ficar falando a meu respeito mas peço perdão em lembrar aqui que foi a Simone Fernandes e eu que lideramos a última greve, de verdade, de jornalistas, que realmente parou parcialmente várias redações de rádio e jornal na cidade do Rio de Janeiro. Um movimento que durou apenas um dia mas foi muito relevante considerando o medo exagerado que jornalistas e radialistas têm de perder o emprego, o que acabou acontecendo com dezenas de colegas que aderiram a paralização. Na noite anterior, em assembléia realizada na Associação Brasileira de Imprensa, discursos inflamados, recheados de coragem e verdade, mudaram o rumo de um movimento que caminhava para "amarelar", mas a eloquência, garra e entusiasmo que nortearam nossos pronunciamentos acabaram contagiando aos colegas que lotaram o auditório da ABI que por imensa maioria optou pela paralização. Convidado para participar da assembléia o então presidente do Sindicato dos Ferroviários do Rio, filiado a CUT, Carlos Santana, atuamente Deputado Federal pelo PT, já em seu terceiro mandato, ficou sensibilizado e entusiasmado com a liderança do movimento. Na ocasião, confesso, depois que vi a greve dar certo, dei uma de "cagão" e torci para que nossos discursos não tivessem sido gravados, o que de fato não aconteceu, mas hoje lamento por não ter como mostrar aquele documento tão significativo, que poderia encorajar aos jornalistas das novas gerações a serem mais unidos em torno de assuntos de interesse da classe.
Abaixo, na íntegra, a mensagem da Simone Fernandes:
Simone Fernandes disse:
Gelcio, por falta de tempo, nos últimos dias, não postei aqui meu comentário sobre o tema. Como acabei de responder um e-mail que recebí de um colega nosso também a respeito do assunto, copio o texto da mensagem aqui para também participar do debate:
"Ricardo, se eu fosse a favor da manutençao do diploma juro que, nos últimos anos, teria tentado mobilizar meus colegas para irmos juntos as ruas em grandes protestos, pelo menos no Rio, contra a possibilidade.
Nunca fui favorável a obrigatoriedade do diploma, embora como você e tantos outros, também tenha investido nele durante quatro anos, coisa que, aliás, não me arrependo.
Desde que o STF tomou a decisão o seu foi o quarto email que recebí protestando. Engraçado é que a questão já vinha se arrastando há anos e nunca entrou em minha caixa de correio eletrônico uma mensagem sequer sobre o tema.
Acho que as manifestações dos profissionais que eram contrários a extinção deveriam ter sido declaradas quando o assunto ainda estava na esfera de discussão. Aliás voce foi convocado por alguma entidade representativa de nossa categoria para participar de alguma manifestação? - desde que a justiça permitiu que o Ministério do Trabalho começasse a conceder registro de jornalista amparado numa liminar voce procurou o sindicato ou a Fenaj? - tem conhecimento de algum protesto de jornalistas que tenha acontecido em qualquer parte do país para explicitar descontentamento? - saberia me dizer porque as universidades e nem os universitários foram as ruas protestar?
- com 28 anos de carreira posso te assegurar uma coisa: nossa classe nunca foi unida e vai continuar assim, com ou sem diploma.
Bjs Simone Fernandes.

Depois de realizar esta nova postagem tomanos conhecimento de manifestação realizada por estudantes e jornalistas no centro do Rio contra a decisão do Supremo Tribunal Federal e de nova entrevista a respeito do assunto concedida pelo Presidente do Supremo, Ministro Gilmar Mendes. Na entrevista ele afirmou que outras profissões também serão desregulamentadas. Pelo visto o Ministro quer destruir o que trabalhadores levaram décadas para conseguir: a regulamentação de suas profissões. Qual categoria será a próxima vítima?

3 comentários:

Eliane Furtado disse...

Querido Gelcio, querida Simone.
Falando em união: protegemos muito uns aos outros. Protegemos sim. Pelo menos algumas gerações de jornalistas. Mas a união verdadeira em prol de projetos, leis e ideiais, pode começar já...Está em tempo. Quem sabe agora.
Diante deste golpe, poderíamos refletir.
Viva a classe médica. Fechadinha.
Este presidente do Supremo não é aquele que se defendeu de ser amigo do Daniel Dantas?

Anônimo disse...

concordo com a Eliane. Vamos começar, mesmo que seja agora.
Juju - RJ

Eliane Furtado disse...

Juju, sempre é tempo. Sempre é tempo. Às vêzes é preciso um tranco para a gente renovar forças e colocar pra fora a união de sentimentos e ideais. Sem medos.
beijos e um ótimo dia para os blogueiros do Gelcio.