GC: - Recentemente nos Estados Unidos uma mãe fugiu com o filho de 13 anos para evitar que ele fosse submetido a quimioterapia. Na opinião do senhor foi irresponsabilidade ou amor excessivo?
Dr. Londres: - Você tem os dois lados da história. Primeiro o pátrio poder, ela teria este pátrio poder? ou seja, ela pode fazer isso? - segundo, ela alegou crenças. Aqui no Brasil, o que se fala demais é com relação ao posicionamento das Testemunhas de Geová e a transfusão de sangue. Será que um juiz pode obrigar uma criança a fazer transfusão de sangue sem o consentimento da mãe? - afinal as testemunhas de Geová acreditam, baseada no que entendem da palavra de Deus, que existe outra forma de salvar a vida de uma pessoa, sem precisar fazer transfusão. E um juiz poderia condenar uma família a passar o resto da vida pensando que cometeu um pecado? - o que se vê mais hoje na prática da medicina - e o código de ética nosso está sendo reformado - é a preservação da autonomia do paciente.
GC: Mas quando o paciente é menor não cabe aos pais ou responsáveis tomarem a decisão por ele?
Dr. Londres: - Claro, trata-se de um menor e a vontade da mãe ou dos pais deve ser atendida. Eu sou católico mais isso não me impede de perguntar. Se fosse uma crença baseada na religião católica, a maioria da população brasileira, a justiça obrigaria esta mãe a ir de encontro ao que ela acredita? - o fato de ser nos Estados Unidos não muda o meu ponto de vista. No caso específico deste adolescente, de 13 anos, que tem um linfoma, eu digo que existem tratamentos eficazes para a doença, mas a vontade da família precisa ser respeitada, desde que ela seja informada com clareza que o tratamento é possível, e escolha o que fazer. Na verdade casos como este existem aos milhares mas só um outro ganha esta notoriedade toda. É um assunto muito complexo que exige entre outras coisas um exame de sanidade da mãe, mas pelo que parece ela não tem nenhum problema mental e sim acredita que a quimioterapia não é necessária para o filho. Será que um juiz ou um tribunal tem competência para julgar casos como este? - eu teria muito cuidado numa abordagem que não fosse de força, através do convencimento, de uma conversa, o que seria muito mais viável que uma imposição. Acho extremamente desagradável um assunto que deveria ser resolvida a beira do leito estar sendo levado para a justiça.
GC: - Quer dizer que o senhor é contra a criminalização da saúde, da medicina?
Dr. Londres: - Sou contrário a assuntos de ordem puramente médicos acabarem em tribunais. Hoje está havendo uma inversão, como se um tribunal pudesse fazer um julgamento que fosse adequado para uma atividade médica. Alias este é um tema constante de conversas que tenho com desembargadores, com juizes, magistrados que alegam que a justiça trabalha com peritos, só que estes peritos estão fora do caso, seria muito importante uma conversa com o médico que está cuidando do caso, até porque as vezes uma notícia pode ser equivocada, não corresponder com a realidade dos fatos.
Dr. Londres: - Você tem os dois lados da história. Primeiro o pátrio poder, ela teria este pátrio poder? ou seja, ela pode fazer isso? - segundo, ela alegou crenças. Aqui no Brasil, o que se fala demais é com relação ao posicionamento das Testemunhas de Geová e a transfusão de sangue. Será que um juiz pode obrigar uma criança a fazer transfusão de sangue sem o consentimento da mãe? - afinal as testemunhas de Geová acreditam, baseada no que entendem da palavra de Deus, que existe outra forma de salvar a vida de uma pessoa, sem precisar fazer transfusão. E um juiz poderia condenar uma família a passar o resto da vida pensando que cometeu um pecado? - o que se vê mais hoje na prática da medicina - e o código de ética nosso está sendo reformado - é a preservação da autonomia do paciente.
GC: Mas quando o paciente é menor não cabe aos pais ou responsáveis tomarem a decisão por ele?
Dr. Londres: - Claro, trata-se de um menor e a vontade da mãe ou dos pais deve ser atendida. Eu sou católico mais isso não me impede de perguntar. Se fosse uma crença baseada na religião católica, a maioria da população brasileira, a justiça obrigaria esta mãe a ir de encontro ao que ela acredita? - o fato de ser nos Estados Unidos não muda o meu ponto de vista. No caso específico deste adolescente, de 13 anos, que tem um linfoma, eu digo que existem tratamentos eficazes para a doença, mas a vontade da família precisa ser respeitada, desde que ela seja informada com clareza que o tratamento é possível, e escolha o que fazer. Na verdade casos como este existem aos milhares mas só um outro ganha esta notoriedade toda. É um assunto muito complexo que exige entre outras coisas um exame de sanidade da mãe, mas pelo que parece ela não tem nenhum problema mental e sim acredita que a quimioterapia não é necessária para o filho. Será que um juiz ou um tribunal tem competência para julgar casos como este? - eu teria muito cuidado numa abordagem que não fosse de força, através do convencimento, de uma conversa, o que seria muito mais viável que uma imposição. Acho extremamente desagradável um assunto que deveria ser resolvida a beira do leito estar sendo levado para a justiça.
GC: - Quer dizer que o senhor é contra a criminalização da saúde, da medicina?
Dr. Londres: - Sou contrário a assuntos de ordem puramente médicos acabarem em tribunais. Hoje está havendo uma inversão, como se um tribunal pudesse fazer um julgamento que fosse adequado para uma atividade médica. Alias este é um tema constante de conversas que tenho com desembargadores, com juizes, magistrados que alegam que a justiça trabalha com peritos, só que estes peritos estão fora do caso, seria muito importante uma conversa com o médico que está cuidando do caso, até porque as vezes uma notícia pode ser equivocada, não corresponder com a realidade dos fatos.
6 comentários:
nota dez para a entrevista com o Dr Londrs.
João Montenegro. RJ.
Achei o dono da CS Vicente de uma lucidêz extraordinária em tudo que respondeu a vc, em especial ao da mãe que fugiu com o filho. Sou Testemuna de Geová mas respeito todas as religiões, todas as crenças, até porque não conheço com profundidade as outras, como a minha. Já ví criticas horriveis as testemunhas de Geová, injustamente, por pessoas que deveriam primeiro entender porque somos contra a transfusão de sangue. O doutor Londres - que é católico - co mo disse, é uma pessoa acima de tudo justa. Abrço da Marilda, Jacarepagá, Rio de janeiro.
O médico Dr. Londres tem toda a razão quando diz que casos que deveriam ser resolvidos entre médicos e pacientes estão indo parar nos tribunais. Mas será que quando alguém entra na justiça não é porque esgotou a paciência com médicos e hospitais? - nem todo médico tem a mesma responsabilidade e amor que o Presidente da CSV demonstra ter.
Oi Gelcio. Dei uma espiada no seu blog e acho que deveria fazer mais entrevistas como esta com o Sr Londres, médico de verdade. Acabei ouvindo todo o papo através do meu laptop, quando viajava para Petrópolis. O engarramento nem sentí. Quando vi estava chegando e tinha ouvido a entrevista na íntegra. Nunca ví um dono de hospital particular ter a posição deste Doutor Londres. Nem parece ser proprietário da mais badalada clínica do Rio. Não é lá que o Dr. Paulo Niemayer tem consultório? - gostaria até de conhecê-lo um dia e apertar sua mão. Tenho ouvido vc na rádio Globo. Parabens pelo blog pelos comentários que faz no rádio. Gostei também do artigo a respeito da Pedra Angular. Até hoje guardo aquela nota que o Anselmo deu a seu respeito quando era assessor do Des. Amorim. Bjs. Eneida Celibeli.
Gelcio, nota 1000 pela entevista. Concordo com a Eneida, quando diz que você poderia fazer mais entrevistas como está.
Tenha uma semana abençoada!
Beijos de muita luz no seu coração!
Muito boa a entrevista com o médico da Clínica São Vicente. Parabens.
Priscila - SP
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