quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A FALÊNCIA DA HISTÓRIA

O jornal histórico carioca TRIBUNA DA IMPRENSA, fundado pelo jornalista Carlos Lacerda em 1949, deixou temporariamente de circular em versão de papel por motivos financeiros. É simplesmente lamentável que um jornal do qual sempre tirávamos matérias e artigos interessantes, gramaticalmente, eticamentente e jornalisticamente perfeitos acabe assim. O jornal era de uma leitura prazerosa para os que gostam de um bom texto. Sabia manter o seu lado crítico, combativo, sem ter radicalismos. Em 1981, a ditadura explodiu a sede da Tribuna, na Rua do Lavradio, centro do Rio, o jornal quase não sai. Mesmo assim, o jornalista Hélio Fernandez e companhia não deixaram por menos: compraram papel, foram até uma gráfica e passaram a madrugada rodando uma edição menor do jornal, mas que conseguiu sair. A manchete do dia, destemida, genial e criativa como só Helio sabe fazer: “A DITADURA VAI ACABAR. NÓS, NÃO”. A tribuna da imprensa era de longe o jornal mais independente e construtivo da imprensa brasileira. Sua forma de fazer jornalismo é daquelas que só pelo amor a esta bela arte da comunicação se constrói. A revisão histórica que comprovava a cada dia e a cada nova edição as idéias próprias de quem não se deixa influenciar, com autonomia de julgamento e ação do seu conselho editorial, colunistas e colaboradores em geral, os quais nutriam entre si uma segurança na correção e firmeza na abordagem factual dos acontecimentos, que se manifestava em um jornal denso e sério, que não poderia, de forma alguma, ser desconhecido do público. Ao que parece, o judiciário e a falta de patrocínios conseguiram o que a ditadura não conseguiu. Em 2001, o jornal Tribuna Da Imprensa teve a sua falência decretada e acesso lacrado, em razão do pedido feito pelo desembargador Paulo César Salomão, pelo não pagamento de uma indenização por danos morais decorrente de um processo contra o jornal, no qual Salomão se sentiu atingido por um artigo publicado em 1994.

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